Onde Estão os Cafetões?

Terminei de assistir The Deuce, da HBO. Uma série que retrata o universo da prostituição e a indústria da pornografia em Nova Iorque, no Times Square, na década de 70. Houve uma especulação de que ela seria cancelada, já que um dos principais produtores, que também faz DOIS papéis na série, é acusado de assédio sexual e comportamento inapropriado por pelo menos 5 mulheres, entre elas a atriz Violet Paley, que teria acusado-o a obrigá-la a pagar-lhe um boquete, além de alunas de suas aulas de atuação que acusam-o de fazê-las protagonizar cenas nuas ou seminuas desnecessariamente.

Mas deixando de lado esse comportamento de moleque, a série também me lembrou um outra, nacional, que achei tão boa quanto (ou até melhor): Magnífica 70. Ela se passa também na década de 70 no Brasil, na época da Ditadura Militar (embora alguns alienados afirmam que a Ditadura Militar não existiu), na Boca do Lixo em São Paulo. Reduto do cinema independente da década de 70, produziu filmes com forte apelo sexual. Com o fim da ditadura e da censura que ela trazia, a Boca começou a introduzir sexo explícito nas suas produções e isso findou por causar sua decadência.

No Recife o bairro do Recife Antigo era quem concentrava a grande maioria das prostitutas e casas de prostituição da cidade na década de 70. Boates chiques, como a Moulin Rouche, a Chantecler e o Bar Dançante Flutuante, erguido sobre as águas do Capibaribe, recebiam gente de todas as camadas sociais. Por tratar-se de um ponto estratégico da cidade, pois lá estava localizado o porto marítimo, as prostitutas faziam bom dinheiro atendendo os marinheiros que constantemente desembarcavam em nossa terra. Até o final da década de 70 os marinheiros ficavam felizes ao chegar no Recife. Eles nem precisavam andar muito para começarem a ouvir as músicas provenientes das “pensões alegres”. E nas alcovas dos prédios históricos do Recife eles saciavam seus desejos com as prostitutas do bairro. No centro da cidade, os cines Ritz Astor, Trianon e Art Palácio exibiam filmes de sexo explícito. Ainda lembro quando era criança e andava pelas calçadas da Rua do Hospício e lia no letreiro do cinema a sessão do dia: “Manias Sexuais”, ou “Elas Gostam de P…”.

Hoje um cinema pornô ainda resiste aos tempos da internet. O Majestic, na Rua Princesa Isabel, ao lado do Parque 13 de Maio, no bairro de Santo Amaro, abre de Domingo a Domingo exibindo filmes pornôs tanto de conteúdo hetero como LGBT. Eu fico pensando o que atrai uma pessoa a ir a um cinema pornô quando a internet, hoje, oferece o mesmo conteúdo de forma quase e praticamente irrestrita? Talvez o contato humano e aquela “mão amiga”, curiosidade, sei lá… 

Mas o centro de prostituição do Recife mudou de lugar. É no bairro de Boa Viagem, mais especificamente em um trecho da avenida Conselheiro Aguiar. Embora ainda bastante frequentado, carros param a todo momento buscando as damas da noite. 

A prostituição mudou bastante da década de 70 para hoje. Para muitos é mais vantajoso e seguro buscar por essas garotas de programa na internet, em sites como o Skokka. Particularmente eu não vejo qual a vantagem de se expor nas ruas hoje em dia, senão talvez, por um preço mais baixo pelo programa. “É preciso muita coragem para uma mulher sair hoje com um homem que não conhece.” - Expõe Janete da Silva, maranhense que saiu do meio do mato e se encantou com o Recife pelo simples fato de a cidade possuir automóveis. Veio se prostituir com 19 anos por necessidade. Mas, logo gostou e passou a encarar a labuta com satisfação. Hoje a sexagenária mora na Favela do Brum. 

Nem sei se existe ainda a figura do “cafetão” atualmente. Ao menos não como era antigamente. O cara que tinha uma equipe de prostitutas que ele colocava nas ruas, protegia aquele ponto, “protegia” elas de agressões de clientes e outras pessoas e livrava elas de encrencas. Talvez ainda tenha nas cidades do interior, como em Arcoverde, a Nena Cajuína. Mesmo assim, não cafetona de rua, mas de bordel. 

O fato é que, “algumas pessoas oferecem a buceta. Algumas pessoas compram a buceta. E algumas pessoas apenas intermediam essa transação.”