Byron era foda!
Sempre gostei muito de Edgar
Allan Poe e sua literatura gótica, e nunca havia prestado muita atenção em
outro escritor gótico, da mesma época: Lord Byron. O cara lutou na Guerra da
Independência Grega, deitou com homens e mulheres, inclusive com sua meia-irmã,
foi um dos primeiros escritores a descrever os efeitos da lombra e atravessou o
Helesponto (hoje Estreito de Dardanelos) a nado, proeza que até hoje é
celebrada em eventos onde vários nadadores fazem a travessia, revivendo um dos
maiores feitos de Byron.
A distância no ponto mais
estreito no Helesponto até a outra margem é de quase uma milha (um quilômetro e
meio aproximadamente) e há uma corrente constante no sentido do Mar de Mármara
para o Arquipélago. Essa façanha foi primeiramente realizada por Leandro, um
jovem de Ábidos, cidade situada na margem asiática do estreito.
Na margem oposta do estreito, na
cidade de Sestos, viva a donzela Hero, sacerdotisa de Vênus. Leandro a amava e
costumava a atravessar o estreito, a nado, todas as noites, para gozar a
companhia da amada, guiado por uma tocha que a mesma acendia na torre para esse
fim.
Porém, numa noite de tempestade,
em que o mar estava muito agitado, o jovem perdeu as forças e afogou-se. As
ondas levaram seu corpo a margem europeia, onde Hero tomou conhecimento de sua
morte e, desesperada, atirou-se da torre para o mar, onde pereceu. Lord Byron
quis provar a possibilidade dessa travessia ele mesmo, quando muitos a
consideravam ainda lendária e impossível.
Byron faleceu em 1824, de uma
febre contraída nos campos de batalha quando lutava na Guerra pela
Independência da Grécia e até hoje é considerado um herói de guerra por esses.
Lord Byron
(A Noiva de Ábidos, Canto ii.)
Sopram fortes os ventos no
Helesponto,
Como naquela noite tempestuosa
Em que o próprio amor que o
enviara
De salvar descuidou-se o bravo
jovem,
O belo jovem, única esperança
De Hero, filha de Sesto,
Solitária,
Na alta torre a fogueira
crepitava,
Desafiando o furacão e as ondas.
As marítimas aves crocitando,
Pareciam gritar-lhe que não fosse
E a cor escura das pesadas nuvens
Era outro núncio do perigo
extremo.
Nada, porém, ele escutava ou via
Senão a luz do amor, a luz da
estrela
Que, nas nuvens brilhava, solitária,
E a voz de Hero, a voz do amor,
nas trevas,
Abafando o fragor da tempestade.
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